domingo, 27 de novembro de 2011

2ª FEIRA ANARQUISTA DE SÃO PAULO

Em 2006 foi realizada a 1ª Feira Anarquista de São Paulo, que contou com diversas atividades, dentre elas mostra de filmes, debates, exposição de materiais, shows e leitura de poesias. Ao longo de um dia cerca de 1000 pessoas circularam pelo evento.
Cinco anos depois, a Biblioteca Terra Livre e o Coletivo Ativismo ABC organizam a 2ª Feira Anarquista de São Paulo, inspirada nas feiras que vem ocorrendo em várias cidades do mundo e na tradição dos festivais operários de propaganda e difusão do anarquismo no Brasil.
Acontecerá, como no evento anterior, uma mostra editorial e venda de livros, jornais, revistas, fanzines e outros materiais libertários. A Feira de São Paulo pretende reunir as editoras libertárias do país e do exterior.
Paralelamente à mostra editorial haverá palestras e debates, assim como diversas atividades culturais, como exibição de filmes e vídeos, exposições, poesias, apresentações teatrais e musicais.
Todos estão convidados!
Data: Domingo - 04 de dezembro de 2011
Horário: das 10h às 20h
Local: Espaço Cultural Tendal da Lapa
Rua Constança, 72 – Lapa, São Paulo, SP, Brasil
Próximo à estação de trem e terminal de ônibus Lapa.
Entrada Gratuita.
Organização:
Biblioteca Terra Livre
http://bibliotecaterralivre.noblogs.org
Caixa Postal 195
CEP: 01031-970 São Paulo, SP – Brasil
***
COMO PARTICIPAR OU COLABORAR
Grupos, coletivos, editoras e publicações anarquistas interessados em participar e/ou expor seus materiais pessoalmente entrem em contato pelo e-mail feiraanarquista@gmail.com
Se você não puder comparecer, há maneiras de se envolver com a Feira:
* Grupos e coletivos: podem enviar painéis com informações sobre suas atividades para exposição das práticas anarquistas no mundo.
* Editoras e publicações anarquistas: podem enviar seus materiais que nos encarregaremos da exposição e venda.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Internet lenta?


ANATEL: GARANTA A QUALIDADE DA INTERNET!

Toda quinta-feira é "Dia de Pressão na Anatel"
A sensação de que a conexão que você compra não é a que chega até você é a mais pura realidade. As operadoras de banda larga só garantem 10% da velocidade contratada e algumas nem se comprometem com uma capacidade mínima! Apesar das inúmeras reclamações, não há regulação que garanta a qualidade da internet que pagamos. 

Isso pode mudar dentro de algumas semanas. Para isso, dependemos de quatro pessoas: os membros do Conselho Diretor da Anatel. Eles se reúnem toda quinta-feira e, em breve, votarão uma resolução sobre a qualidade da internet. Infelizmente, há uma enorme pressão dos provedores de banda larga pela aprovação de uma regulação fraca. Precisamos nos manifestar para que a agência não atenda apenas aos interesses das empresas.

Vamos pedir para a Anatel aprovar mais controle e transparência para o consumidor. Para isso, a proposta de regulamento traz, entre outros pontos,  o direito dos consumidores a uma ferramenta que mede a qualidade da conexão, dando a todos nós uma ferramenta capaz de cobrar um serviço justo.

Quinta-feira é o dia de reunião do Conselho. Envie uma mensagem agora e repita toda quinta!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Pílulas de urbanismo

Pílulas de urbanismo
João Whitaker receita doses de contextualização histórica e social para aliviar surtos de desentendimento político sobre o problema habitacional de São Paulo

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Quanto pesa uma bacia de ferro cheia de merda? – Merda e mijo. De gente. Hein? Os negros tigrados do século 19 sabiam muito bem o sofrimento que dava carregá-las. Negros porque, naquela época, eram escravos. Tigrados porque, enquanto levavam nos ombros os rejeitos intestinais do patrão e sua família, o líquido fedorento se derramava e lhes escorria pelas costas. Como o caminho até o riacho mais próximo fosse longo, o sol se encarregava de transformar a química putrefata dos excrementos escuros dos brancos em manchas esbranquiçadas sobre a pela escura dos negros. Tigres. Às avessas.

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A questão urbana no Brasil é um reflexo da questão econômica e social. Quer dizer, os padrões de crescimento e estruturação da nossa sociedade e da nossa economia se refletem especial e espacialmente na cidade. Quer dizer, a maneira como as cidades foram organizadas no país tem a ver com a maneira com que foram organizadas nossa economia e nossa sociedade. Dá pra falar a mesma coisa de vários jeitos diferentes, assim como dá para construir uma cidade de muitas formas distintas. O importante é ter consciência – ou ficar ligado – que São Paulo não é assim (olhe pela janela) por obra do acaso: foi uma escolha dos cidadãos, ou de uma parcela dos cidadãos: a mesma que escolheu os caminhos da economia.

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É uma lógica bastante simples. Voltemos à Colônia: naqueles tempos, tínhamos uma pequeníssima parcela da população (a elite) que dominava a terra, o Estado e o trabalho. Era proprietária dos meios de produção (lavouras, pequenas manufaturas e comércios) e beneficiária do poder político. Isso mesmo, a elite concentrava tudo. Basta lembrar que nos primórdios da colonização, a Coroa Portuguesa distribuía capitanias hereditárias e sesmarias aos patrícios que desembarcavam no Novo Mundo, e dentro delas o senhor era a autoridade inconteste. O trabalho era escravo. O negro não era considerado gente – ou seja, não tinha direito a ter direitos. Logo, estava totalmente submetido aos desígnios do branco dono da terra. Era ele quem decidia quem ficava em suas parcelas e quem não era bem-vindo. A elite era quem controlava, pois, a ocupação do espaço.

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Era não – é. Segundo o urbanista João Whitaker, a essência desse raciocínio se mantém até hoje, e grupos minoritários seguem controlando a ocupação do território nas zonas rural e urbana. Vejamos o exemplo de São Paulo: a primeira urbanização que aconteceu na cidade veio atender aos interesses da elite agrária que, claro, tirava seu sustento das lavouras de café, mas utilizava os serviços urbanos para exportar sua produção. Bancos, bolsas de valores, entrepostos comerciais, transportes... No final do século 19, o campo já precisava da cidade para sustentar seus padrões de concentração de riqueza. “Não é que houvesse grandes problemas urbanos naquela época”, lembra Whitaker, que coordena o Laboratório de Habitação (LabHab) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP). “A preocupação era melhorar a situação dos bairros onde estavam instaladas as famílias das grandes elites. Os planos urbanísticos que existem no Brasil desde 1890 são descaradamente voltados para a melhoria das regiões da cidade onde mora a parcela mais rica da população.”

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Daí surge um dos grandes mal-entendidos do planejamento urbano brasileiro: a higienização. Como tem ocorrido desde que o homem branco chegou a Pindorama, o higienismo é uma ideia importada da Europa. Só que, no Velho Mundo, o higienismo não deixou de ser uma boa ideia, pensada e aplicada para melhorar a condição de vida da massa proletária que se amontoava em bairros sem água encanada ou rede de esgoto. A Revolução Industrial já era irreversível na Inglaterra do século 19 e as cidades haviam se transformado no centro da economia. Algo precisava ser feito para que os trabalhadores deixassem de viver na imundície e morrer aos 30 anos: isso baixava a produtividade e dava prejuízo à burguesia ascendente. No Brasil, porém, não havia indústria. Quando havia, era algo incipiente: fabricação de sacas de juta, beneficiamento de couro e banha, roupas, sempre localizadas nas áreas periféricas da cidade. “O engraçado é que, quando se importa o urbanismo de fora, o higienismo vai ser executado onde? No bairro de Higienópolis, onde havia as grandes mansões. São as ideias fora do lugar”, continua Whitaker. “E os pobres que se lascassem.”

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É o Estado do deixe-estar social: o público no Brasil nunca foi público. O que deveria ter sido feito em benefício de todos, acabou sendo feito em benefício dos mais ricos. Ontem e hoje. Qual foi a última grande obra executada na cidade de São Paulo? Onde ela se localiza? A quem ela é voltada? Ponte Estaiada... Morumbi... Carros... E não é coincidência. “O Estado patrimonialista vai produzir leis de regulação da cidade que sempre favorecem os setores já favorecidos. Todos os investimentos urbanos no Brasil têm a característica comum de reforçar o padrão de uma cidade desigual.” Há lugares na periferia de São Paulo que não contam com iluminação, asfalto ou saneamento básico. Ou seja, não possuem o básico do básico. Mas recentemente a Rua Oscar Freire, passarela de butiques de luxo, teve a fiação soterrada e as calçadas reformadas pela Prefeitura ao preço de 4,5 milhões de reais. Ao invés de atender as necessidades básicas de todos, o poder público prefere atender aos caprichos dos que há muito tempo já foram agraciados com as benesses da civilização. Portanto, a política habitacional para as camadas populares nada mais é do que a não-política habitacional. O que são as favelas senão a falência completa do Estado em atender as mais mínimas necessidades urbanísticas de seus cidadãos? João Whitaker diz que tem tudo a ver com a industrialização na década de 1950: 50 anos em 5, não é? Mas, como? Empresas multinacionais. Como? Redução de impostos, salários baixos, direitos trabalhistas irrisórios, incentivos do poder público. A Oscar Freire passou por uma reforma extremamente assessória porque lá corre muito dinheiro. Sobre a Ponte Estaiada rodam carros importados e empresários de sucesso. “Com a aparência de uma cidade moderna, você cria uma cidade segregadora, exclusivista, que se fragmenta e se isola.”

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Se isola em centros de pujança, que são dominados pelo mercado imobiliário – que é um mercado, portanto vende produtos, portanto deve permanentemente renovar sua produção. Pense numa indústria de automóveis. Tem que fazer carro sem parar. Se para, não vende. Mas não é só a linha de montagem que deve ser contínua: tem que oferecer carros novos e inovadores. Por isso, todo ano aparece um modelo mais moderno, com air bag, direção hidráulica, design arrojado, console digital... Com as casas e apartamentos acontece a mesma coisa. Se o mercado imobiliário deixar de oferecer mais conforto, mais vagas na garagem, mais segurança, mais mais mais, vai à falência. “O mercado imobiliário vai estar o tempo todo tentando convencer os setores de maior poder aquisitivo de que eles podem morar num lugar melhor. As regiões nobres vão se deslocando e criando novos centros, para onde são canalizados os investimentos públicos.” João Whitaker diz que basta ver o plano de expansão do metrô em São Paulo para constatar quem é que se beneficia com a “linha glamourosa” que sai do Morumbi, passa por Pinheiros, Oscar Freire e Higienópolis até chegar à República, no coração da área mais valorizada do Centro, e à Luz, onde a Prefeitura há anos executa um plano de limpeza social com vistas a inflacionar o preço dos imóveis vizinhos da Pinacoteca e da Sala São Paulo.

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“Na cidade, o investimento que valoriza um bairro é público. E o dinheiro público é fruto do trabalho socialmente produzido. O que vai tornar o Morumbi mais valorizado é o fato de ele ter pontes e avenidas que nós todos pagamos. Porém, quem vai se apropriar desta valorização é o sujeito que consegue pagar para morar ali. No espaço capitalista da cidade existe uma apropriação individual dos investimentos sociais e coletivos, que os urbanistas marxistas chamam de mais-valia urbana.” Em outras palavras: todos sabemos que o dinheiro da Prefeitura vem dos impostos que todos nós pagamos, seja diretamente para a administração local, seja para as instâncias estaduais ou federais. É com esse dinheiro que se executam as obras de asfaltamento, metrô, escolas, jardinagem, habitação, ônibus etc. Numa sociedade verdadeiramente democrática, as obras públicas deveriam atender e beneficiar à totalidade da população, desde o centro até a periferia mais longínqua, não importando o tamanho da conta bancária de cada um. Em São Paulo, como já vimos e vemos, isso não acontece. Mas o mais grave problema apontado por João Whitaker é que a desigualdade entre os bairros nasce exatamente de onde não deveria: dos investimentos públicos. Nada é por acaso. Se os moradores das favelas não têm saneamento básico enquanto os pedestres que circulam pela Oscar Freire caminham em calçadas largas e arborizadas, é porque a Prefeitura quis assim. Ao executar obras sofisticadas em algumas regiões da cidade que já estão bem atendidas pela rede de transporte, lazer e serviços, o governo municipal aumenta (ainda mais) o valor dos imóveis ali localizados. Assim, apenas quem tem bastante e cada vez mais dinheiro pode gozar de investimentos realizados com os impostos de todos – ricos, pobres, negros e brancos. “Bom, essa lógica é válida para qualquer cidade capitalista do mundo, mas no Brasil é reforçada pela cultura do preconceito social, que nasce da sociedade escravocrata. É a cultura que não tolera a pobreza, não tolera a mistura e não enxerga o pobre como sujeito social que tenha direito à cidade.”

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Já poetava Gilberto Gil: a refavela – revela o salto – que o preto pobre tanta dar – quando se arranca – do seu barraco – prum bloco do BNH. Caminhando e cantando e seguindo a canção, faz mais ou menos uns 10 anos que os movimentos sociais que lutam pela moradia em São Paulo começaram a reivindicar o Centro como área propícia e prioritária para a reforma urbana. No Centro a gente não tem gasto com transporte, a gente mora perto do trabalho, perto das opções de lazer e cultura... A quem nunca ocorreram tais pensamentos? Viver no Centro é mergulhar de pés e cabeça em tudo que a cidade pode oferecer. O Centro concentra 60% dos postos de trabalho, mas, curiosamente, é uma região que registra crescimento populacional negativo de -1,2% ao ano. “É uma área que deveria ser tomada pelo governo para promover uma ocupação democrática que permita disponibilizar moradia adequada à oferta de empregos que ali se concentra.” Mas isso nunca aconteceu: pelo menos não na intensidade que deveria. Durante governos mais “populares”, lembra João Whitaker, o poder público deu um pouco mais de atenção ao Centro. A gestão de Luiza Erundina, por exemplo, promoveu uma política de ação em cortiços, que recuperou imóveis para construção de habitações populares em mutirão. Marta Suplicy colocou em prática o projeto Morar no Centro, idealizado junto com os movimentos sociais. E só. Antes disso, ironicamente, um dos maiores projetos de democratização do Centro nasceu no governo de Paulo Maluf. Não porque a prefeitura estivesse comprometida em levar a população de baixa renda para o Centro, mas porque a construção do Minhocão fez com que despencasse o preço dos imóveis nas regiões atravessadas pela pista elevada. Assim, quem ganhava um pouco menos pôde se mudar para apartamentos amplos, que haviam sido caros em meados do século 20, mas que passaram cobrar aluguéis que cabiam no bolso do trabalhador. Basta aguentar o ruído dos escapamentos que decoram a vista a 50 km/h. No Centro de São Paulo, a refavela (que Gilberto Gil interpreta como a ascensão social das classes marginalizadas) não teve nada a ver com BNH.

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O Estatuto das Cidades foi concebido na Constituição de 1988, mas só nasceu nos anos 2000. É um instrumento legal que possibilita ao governo combater a situação de desigualdade urbana, dentro da lei e sem passar por cima do direito de ninguém. Com o Estatuto nas mãos, a Prefeitura poderia, por exemplo, combater a especulação imobiliária. Bastaria acionar na Justiça proprietários que mantêm terrenos vazios em áreas de interesse habitacional. Nunca é demais lembrar que a propriedade, segundo a Carta Magna escrita pelos brasileiros após a ditadura militar, não é um valor absoluto e deve estar sempre ligada à sua função social. Pedaços de terra e imóveis que ficam às moscas, apenas esperando o tempo passar e os preços subirem, descumprem com seus deveres constitucionais. De acordo com o Estatuto das Cidades, o poder público também poderia idealizar e executar projetos urbanísticos voltados para a construção de habitações sociais, através das chamadas ZEIS ou Zonas Especiais de Interesse Social. Poderia, “mas como é um problema essencialmente político, passado dez anos da criação do Estatuto das Cidades, praticamente nenhum município aplicou de fato estes instrumentos”, critica João Whitaker.

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“Vamos pegar, por exemplo, um edifício que foi ocupado e é simbólico para explicar como isso acontece: o Prestes Maia. É um prédio vazio há 15 anos, devendo 5 milhões de IPTU. Portanto, é um prédio que está contra a lei e passível de sofrer a reforma urbana.”

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Texto escrito em 2007: O Prestes Maia é um exemplo de resistência popular à injustiça social que oferece seu contraste mais cruel justamente aqui, na cidade de São Paulo, onde os mais pobres e os mais ricos convivem lado a lado, ora com violência explícita, ora velada. Os 23 andares do Prestes foram ocupados depois de anos de inutilidade. Ali, em pleno centro, um monstro de concreto estava vazio, morto, enquanto milhares de pessoas não têm dinheiro para pagar aluguel ou são obrigadas a morar longe, muito longe dos empregos, da cultura e do lazer que a cidade oferece. Os sem-teto se organizaram, muitos deles cansados de desviar o dinheiro da cesta básica para evitar o despejo de cortiços e quitinetes que, mesmo baratas, são difíceis de pagar para a maioria dos trabalhadores. Entraram no Prestes no meio de uma das noites de 2003. E ficaram. Ali tiveram muito trabalho. Ligaram a força, pediram a instalação de telefones, recuperaram o sistema de abastecimento de água. Na medida de suas possibilidades, deram vida nova ao prédio. Foi o melhor processo de revitalização que poderia ter acontecido ali. Tiveram filhos, construíram uma biblioteca, um espaço cultural com exposições, palestras, música, arte. Transformaram o Prestes abandonado – tomado por ratos e baratas – em suas casas. Porque o foco de resistência popular, o novo quilombo, a maior ocupação vertical da América Latina, antes de tudo, é um conjunto residencial. Lá moram camelôs, catadores de papel, eletricistas, guardadores de carro, carroceiros, empregadas domésticas. Para muitos, morar num dos apartamentos improvisados na avenida Prestes Maia, 911, Luz, é mais que um endereço, é garantia de trabalho. E dignidade. É a residência autogestionada. Tudo funciona na base do cooperativismo, desde a limpeza até a coordenação. A lição de democracia ensinada pelo Prestes passa pelas decisões tomadas em assembleia, pela liderança obediente do MSTC, pela luta diária contra a opinião pública, o poder público, a polícia, contra todas as forças sociais que transformam a ocupação em invasão, os sem-teto em criminosos, a resistência em transgressão, a revitalização em favelização. Onde pode haver justiça nessa reintegração de posse constantemente anunciada e adiada, anunciada e adiada? Os proprietários do Prestes, aqueles que detêm os papéis reconhecidos em cartório, devem muito IPTU para a Prefeitura: mais de cinco milhões. O Prestes ocupado pelos sem-teto, os 23 andares de moradia para aqueles que não têm outro lugar que não a rua, não tem preço. Mas a Caixa Econômica Federal estima que vale sete milhões. Os militantes jamais vão impedir a polícia de expulsá-los. Não há comparação de forças quando há bombas e escudos de um lado, revolta e peito aberto do outro. Além do mais, qualquer tipo de enfrentamento físico vai contra a tradição dos sem-teto. O punho cerrado está lá para reivindicar, não para bater. A voz e a organização são as armas de ataque. Elas não ferem, convencem. Por isso, o Prestes tem que vencer, tem que se transformar de uma vez por todas num conjunto reestruturado com o apoio de arquitetos e engenheiros financiados pelos programas habitacionais da prefeitura, do estado e da União. Para que ganhe o status do símbolo que é, da força que representa, da mudança que pode iniciar quando o povo organizado desde baixo, por si mesmo, consegue vencer os mais espúrios interesses especulativos e mostrar que o ser humano vem antes. Sempre!

*

Para fazer reforma urbana, a Prefeitura precisa de vontade política, mas em São Paulo existe uma inversão tremenda de prioridades. É a lógica do governo para os ricos, do dinheiro de todos sendo investido para benefício de poucos. Hoje apenas 2% do orçamento municipal são aplicados nos projetos de habitação. Por isso, segundo João Whitaker, os movimentos de moradia têm que basear seu discurso e suas manifestações na luta política e cultural. A discussão técnica – déficits habitacionais & cia ltda – é papel dos especialistas e não vai provocar transformações radicais. “Precisamos de conflito para mudar a configuração das cidades brasileiras”, diz. Olho nas estatísticas, não: o melhor é dedo na cara. 




sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O jeito todo educado de tratar com os professores no Ceará








Cobranças públicas dirigidas à Zara são intensificadas

No fantástico Reporter Brasil

Jornalista mostra em livro como 
violência na mídia gera medo na sociedade
A obra mostra como a violência na mídia gera medo na sociedade.

Narrativas do Medo - O Jornalismo de Sensações Além do Sensacionalismo
Autora: Leticia Cantarela Matheus
Editora: Mauad X
Data e hora: 01/10/2011 às 14h
Local: Bloocks livraria – Praia de Botafogo, 316 – Botafogo

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Globo bloqueia celulares em estádios


Anatel flagra o uso ilegal de bloqueador de celular em SP

07/08/2011 |
Julio Wiziack
Folha de S. Paulo
Agência autuou escritórios na av. Paulista, emissora de televisão e até empresário que instalou em casa
Autorização para usar o aparelho é restrita a presídios; emissora utilizava durante a transmissão de jogos
Quem nunca andou pela avenida Paulista e teve falhas no celular? Ou foi ao estádio de futebol e ficou sem sinal? Os clientes reclamam da qualidade do serviço nesses lugares, mas a culpa nem sempre é da operadora.
Investigação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) apontou que empresas, escritórios e até uma emissora de televisão usaram ilegalmente bloqueadores de celular na cidade.
No início de julho, fiscais da agência em São Paulo autuaram uma grande emissora de televisão, no estádio do Pacaembu, pelo uso ilegal de equipamentos que bloqueavam celulares em um raio de até 1,6 km do campo.
A emissora usava câmeras que transmitiam o jogo em HD (alta definição) na mesma faixa de frequência das antenas de celular.
Para ter estabilidade na transmissão, um dispositivo instalado nas câmeras impedia que celulares acessassem a antena da operadora mais próxima, que, assim, ficava a serviço da emissora.
A infração também foi verificada nos estádios da Portuguesa, na capital, e do Guarani e da Ponte Preta, em Campinas (SP). No Rio de Janeiro, esse tipo de equipamento também foi detectado.
A agência ainda não definiu o valor da multa.
Só na Cadeia
Os bloqueadores de celulares só são autorizados em presídios. O que surpreendeu a Anatel é que, nos últimos quatro meses, esses aparelhos foram apreendidos em empresas e até residências.
As diligências ocorreram a partir de reclamações de "zonas cegas". As falhas ocorreram na avenida Paulista, nas imediações do shopping Eldorado e Iguatemi, entre outros lugares onde a cobertura das teles é intensiva.
Os fiscais da agência foram então às ruas com equipamentos especiais para rastrear as interferências.
Dois escritórios de advocacia e uma corretora de valores foram autuados pelo uso de bloqueadores na avenida Paulista. Somadas, as multas foram de R$ 87 mil. Outra corretora foi autuada em R$ 37 mil, mas o caso ainda não foi julgado pela Anatel.
A Folha apurou que os equipamentos apreendidos entraram no país de forma clandestina e não tinham selo de homologação.
Os bloqueadores operam na mesma faixa de frequência das antenas de celular mas com um sinal muito mais potente. Por isso, "sufocam" os sinais das operadoras (e dos celulares) deixando os clientes sem serviço.
No processo aberto pela Anatel, as empresas infratoras disseram que usavam o bloqueador para impedir o vazamento de informações sigilosas via telefone.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Por que não aceitei o prêmio do PNBE


Oi,

Nesta segunda, o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio “Brasileiros de Valor 2011″. O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.


Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.


Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem “amigas da escola”.

Amanda


Natal, 02 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.


Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.


A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.


Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.


Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.


Saudações,
Professora Amanda Gurgel

Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) foi neste dia 05 de julho de 2011 deprimente

do excelente blog do esmael

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Isso é a justiça brasileira

Se há algo ordinário neste país, um câncer que acaba com a esperança do povo, destrói a nação dia após dia. Como um soco na cara quando acabamos de chegar ao cume. Tudo isso e mais um pouco é justiça brasileira. Larápia, covarde, sorve cotidianamente o sangue do povo sofrido, debocha sem escrúpulos do alto de seus salários os injustiçados.

Alimenta a violência com sua desfaçatez e ineficiência. Prega o favorecimento de classes, pautando-se pelo dinheiro, pêndulo deformado em julgamentos escusos. Isso é a justiça brasileira.

Canhestra de moral, desprovida de ética, julga de olhos bem abertos sempre. Sorrateira como uma raposa cevada em nossas galinhas, fazendo escolha nas aves melhores. Pobres penosas sequer merecem o escrutínio de serem as eleitas da noite. Pois ante a esperança da escolha, o descarte já foi feito. Isso é a justiça brasileira.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A moda do Reaça

Excelente artigo escrito por Marcelo Rubens Paiva no Estadão

 Porque será que PM covarde nunca tem nome hein?
Devem enfiar no rabo a identificação....
fotos: Bruno Nogueira 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

PM SP fica enfurecida com a verdade

As faixas traziam as seguintes mensagens: “Abolição se faz com justiça e oportunidade e não com violência da PM” e “Crimes de maio: ontem e hoje a PM continua assassinando negros e pobres"




 
 (Fotos: Ayrton Vignola/AE)
Mais uma desenho maravilhoso do Latuff


terça-feira, 10 de maio de 2011

Trabalho escravo continua a todo vapor em são paulo, desta vez é a "grife" collins

DPU ajuíza ação contra Collins por trabalho escravo

Defensoria Pública da União em São Paulo (DPU/SP) exige na Justiça que rede de lojas de moda feminina cheque condições de trabalho de terceirizadas e cobra R$ 300 mil de danos morais coletivos por flagrante de trabalho escravo


Por Bianca Pyl*
A Defensoria Pública da União em São Paulo (DPU/SP) ajuizou ação civil pública contra a empresa de vestuário Collins, envolvida em flagrante de trabalho análogo à escravidão em agosto do ano passado.

Trata-se da primeira ação coletiva apresentada pelo órgão ao Judiciário trabalhista. "Por falta de defensores, não há como atuarmos também na Justiça do Trabalho. Contudo, quando há uma relação com questões de direitos humanos, como é o caso do tráfico internacional e do trabalho escravo, nós atuamos", observa Marcus Vinícius Rodrigues Lima, do Oficio de Direitos Humanos e Tutela Coletiva da DPU/SP, que moveu a ação.

Protocolada na última quarta-feira (4), a ação atribui o crescimento "em progressão geométrica" da rede de lojas de vestuário feminino Collins à "terceirização ilícita" [veja gráfico abaixo com dados sobre a evolução da empresa]. "A empresa fez uso abusivo do poder econômico, utilização de trabalho escravo para aumento de lucro", sustenta Marcus, que confirmou o envio de ofício ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que os indícios de concorrência desleal sejam apurados.

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

As lavanderias da USP em ação

Se precisar lavar uma grana já sabem quem procurar

O mais ambicioso projeto da administração Gilberto Kassab (PSD) para a saúde, a parceria público-privada para a rede hospitalar da cidade, nem saiu do papel e já é alvo de investigação do Ministério Público Estadual (MPE). Tudo porque foram gastos R$ 11,6 milhões só com o projeto e elaboração do edital da parceria por meio da contratação da Fundação Instituto de Administração (FIA).
O que o MPE quer saber é porque a fundação foi contratada sem licitação em função de sua “renomada experiência e competência para executar e serviço” se ela depois subcontratou um escritório de advocacia para fazer a parte jurídica do contrato.
A Prefeitura se defendeu negando qualquer irregularidade. Alega que o contrato não foi feito pela Secretaria Municipal da Saúde, mas pela Companhia São Paulo Parceria S/A (SPP), uma sociedade de economia mista - a Prefeitura detém 99% de seu capital. O estatuto da empresa permitiria a subcontratação dos serviços. Para fazer o serviço, a SPP assinou um convênio com a secretaria. Depois, a SPP fez o contrato com a FIA. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 2 de abril de 2011

Trabalho escravo é encontrado na cadeia da Pernambucanas

A fiscalização teve acesso ao pedido de compra do lote (2.748 peças) do "casaco longo moletom - tema Romance Gótico", da Argonaut, que os libertados costuravam no momento da ação. As Pernambucanas pagariam R$ 33,50 por cada peça à Dorbyn e venderia a mesma por R$ 79,90. O valor pago pela Dorbyn por cada blusa à oficina de costura era de R$ 4,30.
confira abaixo o infográfico publicado na revista época (uma do PIG)


A reportagem está no: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1874

quinta-feira, 31 de março de 2011

Nesta data todos deveriam ver o documentário: Cidadão Boilesen
Vencedor do mais importante festival de documentários da América Latina (É Tudo Verdade 2009) “Cidadão Boilesen” revela como o empresariado brasileiro financiou a tortura durante o regime militar. Através da surpreendente vida de Henning Boilesen, o documentário revela a ligação política e econômica entre civis e militares no combate à luta armada durante o regime militar.
“Cidadão Boilesen” é um documentário que foca a vida e o tempo de Henning Albert Boilesen, ex-presidente da Ultragaz, assassinado pela guerrilha em São Paulo, no dia 15 de abril de 1971. Boilesen, um dinamarquês naturalizado brasileiro, estava intimamente ligado a Operação Bandeirante (Oban), grupo paramilitar criado pelo II Exercito para combater os guerrilheiros que lutavam contra a ditadura militar brasileira.
Dirigido por Chaim Litewski, chefe do departamento de cinema e vídeo da ONU, o filme traz revelações inéditas e históricas através de entrevistas com Fernando Henrique Cardoso, Celso Amorim, Jarbas Passarinho, Erasmo Dias, Dom Paulo Evaristo Arns, Coronel Brilhante Ulstra, Eugenio da Paz (guerrilheiro que deu o tiro de misericórdia em Boilesen), Henning Boilesen Jr. e muitas outras pessoas, entre militares, historiadores e ex-combatentes. “Cidadão Boilesen” conta também com imagens do acervo particular da família, documentos do SNI, da CIA e da embaixada britânica, revelando fatos guardados a sete chaves até hoje.

Vamos celebrar a estupidez humana

Teatro do absurdo no meu querido Paraná

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/2bab1e004535a66bb52df52475bf1155/CP+N%C2%BA+117+GPDTA.pdf?MOD=AJPERES

http://www.sbpt.org.br/downloads/arquivos/COM_TABAG/Cons_Publica_Anvisa_CP_112_2010.pdf

Audiência pública sobre a produção de fumo no Paraná (23/03)

O Plenário da Assembleia Legislativa do Paraná recebeu na manhã desta quarta-feira (23/03) cerca de 1500 pequenos produtores de fumo e lideranças para a audiência pública sobre a produção de fumo no Paraná. Por proposição do deputado Stephanes Junior (PMDB), o evento tratou da possível proibição pela Anvisa da utilização de diversos ingredientes na produção do cigarro. De acordo com o parlamentar, a proibição pode afetar perto de 30 mil pequenos agricultores paranaense e suas famílias, que dependem da fumicultura para o seu sustento.
Foto: Nani Gois / Alep

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

futuro da USP?


Foto: Fernando Borges/Terra

Chupei do excelente "Vi o Mundo" do Azenha a magnífica entrevista com o Nicolelis
Você tem uma opinião bastante crítica sobre a política científica no País. Mas, na eleição, manifestou apoio publicamente à Dilma. Por quê?

Porque a outra opção era trágica. Basta olhar para o Estado de São Paulo: para a educação, a saúde e as universidades públicas. Não preciso falar mais nada. Eu adoro a USP, onde me formei. Mas a liderança que temos hoje na USP é terrível. O reitor da USP (João Grandino Rodas) é uma pessoa de pouca visão. Não chega nem perto da tradição das pessoas que passaram por aquele lugar. São Paulo acabou de perder um investimento de 150 milhões de francos suíços (cerca de R$ 270 milhões) porque o reitor da USP não tinha tempo para receber a delegação de mais alto nível já enviada pelo governo suíço ao Brasil. Mandaram o pró-reitor de pesquisa da universidade (Marco Antônio Zago) fazer uma apresentação para eles. Ninguém agradeceu a visita. Manifestei oficialmente ao professor Zago minha indignação como ex-aluno da USP.
Um dos integrantes da delegação suíça doou um super-computador de US$ 20 milhões de dólares (cerca de R$ 34 milhões) para nosso instituto em Natal. Chegou na semana passada e será um dos mais velozes do Brasil. Não pagamos um centavo. Não há mais espaço para provincianismo na ciência mundial. Nas reuniões que eu presenciei com comitês e comissões de outros países, a tônica da Fapesp sempre foi assim: “Fora de São Paulo não existe ciência que valha a pena investir”. Esse tipo de coisa é muito mal visto pelos estrangeiros. Não há mais lugar para regionalismo, preconceito… É ótimo para São Paulo ser responsável por 70% da produção científica do País, mas é muito ruim para o País, que precisa democratizar o acesso à ciência. Não adianta dizer em reuniões com emissários internacionais que São Paulo tem uma “relação amistosa” com o Brasil, este outro País fora das fronteiras do Estado. Este bairrismo não ajuda em nada.
A Fapesp é uma jóia, um ícone nacional, reconhecida no mundo inteiro. Mas isso não quer dizer que as últimas administrações foram boas. Temos de ser críticos. Esta última administração, em especial, foi muito ruim. A Fapesp está perdendo importância. Veja só: a Science (no artigo publicado há algumas semanas sobre a ciência no Brasil) não dedicou uma linha à Fapesp. Que surpresas você vê saindo da ciência de São Paulo? Acho que a matéria da Science foi uma boa chamada para acordar, para sair dos louros, descer do salto alto e ver o que podemos fazer com os R$ 500 milhões anuais da Fapesp. Ah, se eu tivesse um orçamento assim! Temos muito menos e posso dizer para o diretor-científico da Fapesp (Carlos Henrique de Brito Cruz) que nós saímos na Science. E ele tem condição de investir nos melhores centros de pesquisa do País.