Sábado pela manhã estava eu na rua Mato Grosso, no
bairro de Higienópolis, em frente ao
Medical Center esperando os carros passarem, para que pudesse atravessar a rua.
Olha para esquerda veem carros, olho pra direita também veem
carros, porém uma cena me chama à atenção. Um maltrapilho chega numa lixeira e
começa a revirá-la. Tira de lá um resto de panetone, com aquele papel forma.
Pega o pedaço maior e oferece ao seu cão, que já esperava sentado. Então raspa
com a mão e joga na calçada. Imediatamente 10, 12 pombos descem comer os
farelos ali jogados. O cão continua sentado. O homem se dirige novamente para
lata de lixo, vira, revira. Sai com uma lata pequena, fica de cócoras, coloca
aquele papel forma na calçada e com o fundo da lata, raspa, raspa, raspa, como
se quisesse tirar o impossível dali. Amontoa aquelas migalhas com a mãe que faz
um bolinho e dá na boca do cão, que engole de vez. Nem dá tempo de mastigar,
urgência da fome. O maltrapilho levanta-se leva até o lixo a latinha e o resto
de papel do panetone.
Levanta um braço rapidamente como que querendo espantar os
pombos que levantam voo até os fios do outro lado da rua. Convida seu cão que
obediente ainda permanece sentado. Levanta e acompanha seu companheiro de vida
rua acima. Quando haverá outra parada dessa? Talvez lá na esquina aonde tem outra
lixeira. Teremos a mesma cena? Não sei, não sei o que tem dentro da próxima
lixeira... Eu aproveito os segundos sem carros na rua e atravesso, seguindo meu
caminho. Por 5 minutos ou mais eu tive um ser humano digno na minha frente.
Este texto descrevendo a cena da rua é uma homenagem a minha
ex- professora, educadora, amiga e companheira de tantas jornadas Elaine
Tavares.
Um comentário:
é a literatura da margem...
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