segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dignidade


Sábado pela manhã estava eu na rua Mato Grosso, no bairro  de Higienópolis, em frente ao Medical Center esperando os carros passarem, para que pudesse atravessar a rua.
Olha para esquerda veem carros, olho pra direita também veem carros, porém uma cena me chama à atenção. Um maltrapilho chega numa lixeira e começa a revirá-la. Tira de lá um resto de panetone, com aquele papel forma. Pega o pedaço maior e oferece ao seu cão, que já esperava sentado. Então raspa com a mão e joga na calçada. Imediatamente 10, 12 pombos descem comer os farelos ali jogados. O cão continua sentado. O homem se dirige novamente para lata de lixo, vira, revira. Sai com uma lata pequena, fica de cócoras, coloca aquele papel forma na calçada e com o fundo da lata, raspa, raspa, raspa, como se quisesse tirar o impossível dali. Amontoa aquelas migalhas com a mãe que faz um bolinho e dá na boca do cão, que engole de vez. Nem dá tempo de mastigar, urgência da fome. O maltrapilho levanta-se leva até o lixo a latinha e o resto de papel do panetone.
Levanta um braço rapidamente como que querendo espantar os pombos que levantam voo até os fios do outro lado da rua. Convida seu cão que obediente ainda permanece sentado. Levanta e acompanha seu companheiro de vida rua acima. Quando haverá outra parada dessa? Talvez lá na esquina aonde tem outra lixeira. Teremos a mesma cena? Não sei, não sei o que tem dentro da próxima lixeira... Eu aproveito os segundos sem carros na rua e atravesso, seguindo meu caminho. Por 5 minutos ou mais eu tive um ser humano digno na minha frente.
Este texto descrevendo a cena da rua é uma homenagem a minha ex- professora, educadora, amiga e companheira de tantas jornadas Elaine Tavares.


Um comentário:

Unknown disse...

é a literatura da margem...